terça-feira, 20 de maio de 2014

A Ciência das Expressões Faciais das emoções e Micro-expressões: tendências da Psicologia Moderna



Por Hélio Clemente
Notas Introdutórias
O presente artigo não pretende retratar nenhum tipo de revisão teórica aprofundada sobre as expressões faciais e micro-expressões. Pretende-se aqui, através de eixos temáticos breves e de fácil compreensão tanto para os cientistas do comportamento quanto o público em geral, apresentar, os os pressupostos gerais deste tema, que é ainda um campo pouco explorado pela ciência do comportamento humano.
É importante realçar que as ilustrações usadas neste texto derivam de textos e artigos pesquisados e de estudos originais em que os autores disponibilizaram para uso.

Expressões Faciais
Expressões faciais ocorrem quando os músculos da face funcionam em concerto, isto é, produzem uma comunicação não verbal. Primordialmente, acreditava-se que se tratava de um comportamento aprendido, no entanto, estudos psicológicos em tribos como Papua em Nova Guine mostraram que as expressões faciais podem predizer emoções universais (Ekman, 1999; APA, 2003).
O campo da ciência que estuda a comunicação ou mensagens não verbais é geralmente designado por  Body language”. O pressuposto básico subjacente é que “a forma como os gestos são usados durante a interacção interpessoal, apresenta um padrão específico que se liga a sentimentos e emoções ou estados primitivos de instintos, e não são  necessariamente determinados pela cultura”.

As micro-expressoes e o estudo das expressões faciais surgem neste domínio e pouco a pouco vão se constituindo num domínio especifico de estudo do comportamento humano. Contudo todas estas áreas incluem-se num campo maior de estudo, que é a linguagem para-verbal, onde para além dos gestos, as posturas e expressões faciais, as entonações e variações de tonalidades da voz são consideradas comunicativas.  
Paul Ekman é um dos Investigadores mais proeminentes na área das expressões faciais das emoções. Professor na Universidade de San Francisco, no Medical Psyquiatric Institute, Ekman recebeu o seu PHD em Psicologia Clínica e foi considerado pela Associação Americana de Psicologia, um dos 100 psicólogos mais importantes do século XX (APA, 2003). Foi também eleito uma das 100 individualidades mais influentes da actualidade segundo a revista NY Times. Ekman é ainda destacado ainda pela consultoria cientifica à famosa série televisiva Lie to me da FOX, onde o Grupo Lightman apresenta um pouco da ciência e o trabalho do Paul Ekman Group

Emoções VS Expressões faciais
A maioria dos autores segundo Barlow e Durand (2008:61) concordam que a emoção é uma tendência de acção impulsionada por um acontecimento externo (ex. ameaça), ou por um estado de sentimento (ex. terror) acompanhada por uma possível resposta psicológica (ex. Medo).
Estudos da expressão das emoções iniciaram com Darwin (The expression of emotion in man and animals) que foi o primeiro cientista a sugerir a universalidade das emoções básicas com base na sua teoria da evolução, defendendo esta  ser fruto do inatismo e produção filogenética (Ekman, 1999).
As emoções segundo Ekman são determinantes para a nossa qualidade de vida, e ocorrem em todas as relações com as quais nos preocupamos: trabalho, amizades, negócios ou relações mais íntimas. Elas podem salvar nossas vidas, mas podem ser muito desastrosas. Em geral começam muito rapidamente que dificilmente a consciência participa da sua expressão.

Expressão facial das emoções
Tomkins, colaborador de Ekman, conduziu um primeiro estudo onde descobriu que as expressões faciais estão intimamente ligadas a certos estados emocionais (Tomkins & McCarter, 1964). Ekman, posteriormente conduziu estudos em vários países, que mostraram o reconhecimento de emoções básicas a partir da observação de poses de expressões faciais, mesmo por culturas pré-literadas e ainda casos de situações espontâneas, sugerindo então, a universalidade das expressões faciais de emoções básicas (Ekman, 1972, 1973; Ekman & Friesen, 1971; Ekman, Sorenson, & Friesen, 1969; Izard, 1971;Ekman & Friesen, 1971; Ekman, et al., 1969).

Fontes das emoções e expressões faciais
Sugere-se a existência de fontes biológicas e genéticas na produção das expressões faciais das emoções. Quando são despertadas espontaneamente até mesmo indivíduos cegos congénitos produzem as mesmas expressões faciais que os normovisuais (Couve, Jenkins, & Shott, 1989,; Galati, Miceli, & Sini, 2001; Galati, Sini, Schmidt, & Tinti, 2003,; Matsumoto & Willingham, 2009).
A mesma musculatura facial que existente em humanos adultos, existe em crianças recém-nascidas e é completamente funcional desde o nascimento defende Ekman (Ekman & Oster, 1979) e está também presente em chimpanzés como já afirmava Darwin (Bardo, 2003,; Covas, Waller, Parr, & Bonar, 2006;  Waal, 2003).
 
Micro-expressões
Estudos apontam que quando as emoções acontecem e não há nenhuma razão para serem modificadas ou escondidas, tipicamente duram entre 0.5 a 4 segundos e envolvem a face inteira, sendo por isso chamadas de macro-expressões. Estas expressões são relativamente fáceis perceber, se a pessoa (observador) souber o que procurar (Ekman &Kaser, 2003). Por outro lado, micro-expressões são expressões que entram a face de tempo em tempo em uma fracção de um segundo, às vezes tão rápidas quanto 1/30 de um segundo.  Podem passar despercebidas a um piscar de olhos.
Micro-expressões são sinais prováveis de emoções escondidas podendo também representar sinais de processamento rápido segundo os estudos de Ekman. As micro-expressões são tão breves que a maioria das pessoas “não treinadas” não consegue reconhecer em tempo real.

Explicação psiconeurológica
Pesquisas neuro-anatómicas sobre expressões emocionais sugerem que existem dois caminhos neurais que medeiam expressões faciais. Cada um que se origina em uma área diferente do cérebro (Rinn, 1984). A área piramidal dirige acções faciais voluntárias e liga-se na tira de motor cortical, considerando que a área de extrapiramidal dirige expressões emocionais involuntárias e deriva de áreas subtropicais do cérebro.
Quando os indivíduos estão em situações intensamente emocionais mas precisam controlar as suas expressões, activam-se ambos os sistemas (piramidal e extrapiramidal) causando então uma “guerra neural” acima do controlo da face, permitindo o vazamento rápido e passageiro de micro-expressões. 
 
Alguns Instrumentos produzidos para captar/identificar  expressões faciais
Face Action Encode System (FACS) – é um manual guia técnico, detalhado, que explica como categorizar comportamentos faciais baseado nos músculos que os produzem.
 
Os trabalhos de Ekman tornaram-se tão populares que várias universidades de engenharias e design de vários países, tem procurado desenvolver métodos sofisticados, de estudar as micro-expressões através de criação de cámeras especiais ligadas ao FACS e ainda em mostrar a simetria da face humana e das expressões faciais.
Sem dúvidas os trabalhos de mais de 40 anos de pesquisa de Paul Ekman sobre expressões faciais trazem para a comunidade científica de Psicologia e áreas afins que lidam com o comportamento humano, várias contributos pertinentes e actuais. Nos EUA, as técnicas de Ekman, tem sido usadas para aplicações clínicas: descoberta de dor, monitoramento  de depressão, e ajudando os indivíduos no espectro autista. Tem sido ainda usado no mundo do negócio para comunicação e marketing, vendas, cooperação e negociação. Na educação, professores treinados em micro-expressoes são mais hábeis de podem ler as emoções dos estudantes deles/delas para obter sugestões sobre o progresso das lições. Os processos de avaliação  psicológica e recrutamento são fortemente avantajados com as técnicas de Ekman assessoradas pelo Ekman Group. Destacam-se ainda as aplicações forenses destes conhecimentos que tem contribuído para a melhoria da segurança pública, através do treinamento de redes policiais, de segurança, de aeroportos e ainda de investigação criminal. Um último aspecto que o grupo Paul Ekman International tem defendido nos seus trabalhos é que “conhecer expressões faciais e ter a capacidade de identificar micro-expressoes torna-nos mais aptos para lidar de uma forma mais racional com relações interpessoais”.

Notas finais
A face humana não é um campo arbitrário que produz acções e reacções casuais, a ciência tem mostrado que existem padrões com significados comunicativos muito fortes, que os técnicos do comportamento humano não podem ignorar no seu trabalho. É preciso também a partir destes avanços científicos buscar embasar a avaliação e o tratamento que o psicólogo faz da linguagem não verbal, não pode ser uma questão negligenciada e a nível do senso comum, é preciso tratar da questão com a objectividade que os avanços científicos têm mostrado que ela merece.
Sem dúvidas a questão das expressões faciais das emoções traz uma discussão com contornos éticos inevitáveis e precisa-se sempre contextualizar o conhecimento produzido a cada realidade.

Sugestão para leitura
Paul Ekman
·         - Emotions revelead
·        -  Facial expressions
·       -   Facial expression of emotion
Darwin: emotions in man and animals
Nierenberg: Como observar as pessoas

Veja a página Oficial do Grupo Paul Ekman International e saiba mais: http://www.paulekman.com/
Referências bibliográficas
ž  Ekman, P. (2003). Emotions revealed (2nd ed.). New York: Times Books.
ž  Ekman, P. (Ed.). (1973). Darwin and facial expression; a century of research in review. New York: Academic Press
ž  David Matsumoto and Hyi Sung HwangScience Brief: Reading facial expressions of emotion
Byhttp://www.apa.org/science/about/psa/2011/05/facial-expressions.aspx
ž  P. Ekman and E. Rosenberg. What the face reveals: Basic and applied studies of spontaneous expression using the Facial Action Coding System (FACS). Oxford University Press, USA, 1997. 2
ž  Paul Ekman. Facial Expressions. University of California, San Francisco, CA, USA In Dalgleish, T., & Power, M. (1999). Handbook of Cognition and Emotion. New York: John Wiley & Sons Ltd.
ž  Ekman, P; Kelgtner, D. Facial expression of emotion, University os S. Francisco
ž  Ekman, P. (1980)Facial Sign of emotional experience. Journal of Personality and Psychology.

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